Seis opositores do regime chavista se refugiam na embaixada da Argentina na Venezuela, que corta a luz do prédio

  • 27/03/2024
(Foto: Reprodução)
Na semana passada, a procuradoria-geral da Venezuela afirmou que tem sete mandados de prisão em abertos. De acordo com a mídia argentina, as pessoas que se refugiaram na embaixada são ligadas ao partido de María Corina Machado. Fachada da residência do embaixador da Argentina em Caracas, em 24 de março de 2024 Federico Parra/AFP Seis opositores do regime chavista estão refugiados na embaixada da Argentina em Caracas, a capital da Venezuela, desde a segunda-feira (25). O gabinete da presidência de Javier Milei confirmou a informação na terça-feira (26) em um texto publicado na rede social X (o antigo Twitter). Nessa publicação afirma-se que a Argentina acolheu líderes políticos de oposição na embaixada argentina em Caracas "com o respaldo da inviolabilidade consagrada no artigo 22 da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, do qual ambas as nações, Argentina e Venezuela, são signatárias". ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp O Ministério de Relações Exteriores da Argentina não revelou os nomes das pessoas que estão na embaixada, mas, de acordo com o jornal argentino “La Nación”, os seis são ligados ao partido Vente Venezuela, da líder María Corina Machado (veja abaixo quem são). Os argentinos também afirmam que a luz elétrica do imóvel da embaixada deixou de ser fornecida e que é obrigação do Estado que recebe diplomatas garantir as instaçãoes da missão "contra intrusões ou danos e preservar a tranquilidade e dignidade da mesma". No fim da nota, afirma-se que o o presidente Javier Milei "pede que o socialista Nicolás Maduro garanta a segurança e o bem-estar do povo venezuelano e convoque eleições transparentes, livres, democráticas e competitivas". Policiais argentinos De acordo com o "Clarín", a ministra de Segurança argentina, Patricia Bullrich, decidiu enviar dois policiais para a embaixada na Venezuela. A entrada dos policiais depende de um visto do governo de Nicolás Maduro. Se os agentes forem autorizados a entrar na Venezuela como enviados da Argentina, eles terão imunidade diplomática, de acordo com o "Clarín". Segundo o jornal argentino, a residência argentina em Caracas não tem proteção policial argentina, apenas da guarda bolivariana. Desde que Javier Milei assumiu a presidência da Argentina, em dezembro do ano passado, o país não nomeou um embaixador em Caracas. O principal diplomata argentino no país é o encarregado de negócios Gabriel Volpi. Prisões recentes Na semana passada, o procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, afirmou que duas pessoas próximas a María Corina Machado haviam sido presas. Ele disse ainda que tinha mandados de prisão para outras sete pessas, inclusive uma assessora importante, Magalli Meda (segundo o "La Nación", ela é uma das seis pessoas que estão na embaixada argentina). Quem são os opositores que se refugiaram na embaixada De acordo com o "La Nación", as seguintes pessoas estão na embaixada da Argentina na Venezuela: Magalli Meda, chefe de campanha de María Corina Machado. Pedro Urruchurtu, coordenador internacional do partido Vente Venezuela. O ex-deputado Omar González. Humberto Villalobos, um especialista em eleições. Claudia Macero, responsável pela comunicação do partido. Há uma sexta pessoa que não quer revelar sua identidade. Omar González, o ex-deputado que está na embaixada, deu uma entrevista a uma rádio argentina e falou que eles ainda não começaram o processo para pedir asilo político. O partido Vente Venezuela faz parte de uma aliança chamada Plataforma Unitária Democrática (PUD), que publicou um texto na rede social X no qual afirma que repudia "as ações tomadas contra a embaixada da Argentina, cortando o fornecimento de energia elétrica logo que o governo desse país se pronunciou a favor dos cidadãos que querem eleições livres e justas na Venezuela". Nota do Brasil 'ditada pelos EUA' Na terça-feira, o governo de Nicolás Maduro publicou uma nota para reclamar do posicionamento brasileiro a respeito das eleições venezuelanas. Os venezuelanos afirmam que um pronunciamento oficial do Brasil que havia sido divulgado mais cedo é intervencionista, "nebuloso e parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”, aponta nota assinada pelo Ministério das Relações Exteriores da Venezuela. Na segunda-feira terminou o prazo para que os candidatos a presidente da Venezuela nas eleições marcadas para o dia 28 de julho se inscrevessem no Conselho Nacional Eleitoral. A principal frente de oposição não conseguiu protocolar o nome de sua candidata, Corina Yoris. "O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela repudia a declaração cinzenta e intrometida, redigida por funcionários do Itamaraty, que parece ter sido ditada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, onde são emitidos comentários carregados de profunda ignorância e ignorância sobre a realidade política na Venezuela", diz trecho do comunicado. O Itamaraty informou que não vai comentar as críticas. Nesta terça-feira, o Ministério de Relações Exteriores brasileiro divulgou um texto sobre o impedimento à candidatura de Corina Yoris. O Brasil afirmou que o governo Maduro age de forma "não compatível" com o Acordo de Barbados, mediado pela Noruega e que contou com a participação brasileira em busca de um processo eleitoral limpo no país vizinho. O Acordo de Barbados prevê, entre outros pontos, a realização de eleições na Venezuela em 2024 e a libertação de opositores presos. "[O Brasil] observa que a candidata indicada pela Plataforma Unitaria, força política de oposição, e sobre a qual não pairavam decisões judiciais, foi impedida de registrar-se, o que não é compatível com os acordos de Barbados. O impedimento não foi, até o momento, objeto de qualquer explicação oficial", diz trecho do comunicado do Itamaraty. Na Venezuela, candidata da oposição denuncia que não consegue registro para eleição A principal frente de oposição da Venezuela afirmou que não conseguiu inscrever a sua candidata Corina Yoris no site do Conselho Nacional Eleitoral, o órgão responsável pelas eleições no país. O prazo terminou às 23h59 de segunda-feira (25). Reação da Venezuela Além de dizer que o texto brasileiro é intervencionista e que parece ter sido influenciado pelos EUA, os venezuelanos também afirmaram que eles têm mantido “uma conduta fiel aos princípios que regem a diplomacia e as relações de amizade com o Brasil” e que não emite juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais que ocorrem no Brasil. Por isso, disse o governo da Venezuela, eles exigem “respeito ao princípio de não interferência em assuntos internos e em nossa democracia”, que eles mesmos chamam de “uma das mais robustas da região”. Os venezuelanos também reclamam que o Brasil não citou que na segunda-feira, quando o presidente Nicolás Maduro formalizou sua candidatura à reeleição, um homem foi preso com armas. O governo da Venezuela diz que foi uma tentativa de assassinato. No fim do texto do governo de Maduro há um agradecimento ao presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que "de maneira direta e sem ambiguidades, condenou o bloqueio criminal e as sanções que foram impostas pelos EUA". Lula e Maduro são aliados históricos. Eleições na Venezuela As eleições serão disputadas em 28 de julho. Nicolás Maduro buscará o terceiro mandato, que pode levá-lo a 18 anos no poder. Um dos chefes da coalizão da oposição, Omar Barboza, afirmou que o grupo enfrentou restrições no sistema online do Conselho Nacional Eleitoral, e, por isso, não conseguiu registrar a candidatura de Corina Yoris. Na manhã da segunda-feira, Corina afirmou que a frente de oposição havia feito todas as tentativas, mas que o sistema estava totalmente fechado. "Tentamos ir pessoalmente ao Conselho Nacional Eleitoral para entregar uma carta solicitando uma prorrogação e nem mesmo fisicamente pudemos fazê-lo". No entanto, de última hora, outro nome da oposição, o governador do estado de Zúlia, Manuel Rosales, decidiu se inscrever e conseguiu completar seu registro no Conselho Nacional Eleitoral. Rosales, que não pretendia se lançar candidato, será agora o principal concorrente de Maduro nas urnas. Com perfil pragmático e negociador, ele concorrerá pelo Um Novo Tempo (UNT), partido também de oposição. Nesta segunda, a opositora Maria Corina Machado disse que ainda analisaria se sua coalização vai apoiar Rosales. O governo brasileiro também se pronunciou sobre o caso. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) disse que acompanha com "expectativa e preocupação" o processo eleitoral na Venezuela. Analistas afirmam que o bloqueio a Corina Youris tem motivação política. O cientista político Jorge Morán afirmou à agência de notícias AFP que o chavismo busca repetir o cenário de 2018, quando a oposição boicotou as eleições presidenciais vencidas por Maduro. Filósofa e professora universitária, Yoris, 80 anos, nunca trabalhou na administração pública, e seu nome aparece limpo na base de dados do Conselho Nacional Eleitoral. Ela foi indicada para a candidatura da oposição pelo Vente Venezuela, o partido de uma venezuelana de nome parecido, Maria Corina Machado, que venceu prévias entre todos os partidos de oposição do país. Desde a última quinta-feira (21), já se inscreveram nove candidatos que se apresentam como opositores, mas alguns deles são acusados de colaborar com o governo chavista. Corina Yoris durante coletiva de imprensa em Caracas, em 22 de março REUTERS/Gaby Oraa Maduro formalizou sua candidatura O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não teve os mesmos problemas e formalizou nesta segunda-feira (25) sua candidatura à reeleição. Ele chegou ao Conselho Nacional Eleitoral acompanhado de milhares de militantes convocados pelo partido governista, o PSUV. O presidente venezuelano afirmou que dois homens armados, que ele vinculou ao partido de María Corina Machado, foram detidos após se infiltrarem no comício do chavismo com o plano de assassiná-lo. Outro adversário Um grupo de sete países latino-americanos (Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru e Uruguai) publicaram um comunicado em conjunto no qual afirmam estar preocupados "com o impedimento da inscrição" de Corina Yoris. Analistas descartam a sua candidatura e falam em buscar um outro candidato, com menos ligações com María Corina Machado. O consenso, no entanto, é de que qualquer nome inscrito pela oposição deve ser apoiado pela opositora.

FONTE: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/03/27/seis-opositores-do-regime-chavista-se-refugiam-na-embaixada-da-argentina-na-venezuela-que-corta-a-luz-do-predio.ghtml


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